Ahãm (garganta limpa)
Vamos recomeçar ?
Era uma vez uma menininha que se chamava Lili.
Ela não vivia numa floresta, não era amiga dos bichinhos e nem cresceu num castelo.
Mas ela sabia que tudo isso existia, porque alguém se encarregou de contar a ela. Contaram também que as bruxas eram más; os príncipes, encantados; as maldições eternas; e as maçãs proibidas.
Os primeiros não despertaram tanto interesse, mas esta última...
E olha que nem precisou da serpente tentando, se enroscando, seduzindo...
A maçã por si mesma, encantou a Lili.
Que não era princesa, mas era tola.
E a maçã, era tão vermelha que brilhava, vigorosa, cheia de recheio, convidativa e perfumada... Ah o cheiro....
Quanto mais a Lili olhava para a maçã, mais a desejava, aí ela decidiu não olhar mais.
Foi então que começou a sonhar com a maçã.
Não tirava a maçã da cabeça, como se comê-la fosse uma necessidade vital.
Ou comia ou morria.
Tentou as peras cotidianas, o arroz, o feijão, até um bifinho acebolado...(é, nos reinos encantados também tem P.F., tá pensando o que ?)
Nada.
A maçã não estava em sua em sua mesa, não estava nem ao alcance de suas mãos.
Teria que subir na árvore, se ralar toda, suar, sofrer, e nem assim era garantia de comer a maçã.
Lili não se rendeu fácil.
Mudou de caminho.
Arranjou quatroze mil ocupações, espanava os cílios antes de dormir, cortava as unhas do pé dos gatinhos sem lar, e aparava as samambaias.
Nada.
Lá estava a maçã: distante, sedutora, perfumada, uma promessa de delícias, uma mordida única, mais que isso: proibida.
Pois é, quem contou as histórias de príncipes, bruxas, maldições e fadas pra Lili também explicou que a maça era proibida.
Proibida...
Por que, proibida ?
Porque sim, ué.
Pronto, estava feito o estrago.
E de tanto pentear e espanar cílios, deixar uma samambaia careca e ganhar a antipatia eterna dos gatos, a Lili resolveu dar uma escapadinha...
Só pra olhar, ué, que mal tem olhar ?
Nenhum.
E depois que olhou, a Lili resolveu chegar um pouquinho mais perto... Afinal que mal poderia ter ?
Quando já estava debaixo da árvore, resolveu subir, só pra sentir o perfume da maçã de pertinho. Só sentir o perfume, não custa nada, não vai fazer mal algum...
E uma vez com o nariz colado na maçã e embriagada pelo perfume da fruta, nossa amiguinha abocanhou a maçã com a boca arreganhada, e com os cantos da boca escorrendo polpa, gemeu de prazer.
Estava perdida a inocência.
Lili foi expulsa do paraíso.
Agora era viver na Terra.
Esse blog começa aqui. Com a perda da inocência, a vida com dor, sangue, parto, morte e trabalho para ganhar o sustento.
E muita maçã, claro.
Dizem que quem provou uma vez...
A nossa conversa vai ser assim de agora em diante, cheia de metáforas.
Espero que isso não impeça a gente de continuar conversando, eu e vcs.
Afinal, nem tudo precisa ficar explícito, não é mesmo ?
Às vezes, o que esta por trás do véu abre mais espaço pra imaginação do que a limitação que nos impõe a exposição.
bjos